sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Tô vendo tudo.

   A música e as imagens falam por si. Mais um contundente grito na voz deste maravilhoso profeta paraibano chamado Zé Ramalho. E nós, o povo, continuamos nessa vida de gado.




'O meu país', música dos compositores Livardo Alves, Orlando Tejo e Gilvan Chaves. 



Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

Um país que crianças elimina
Que não ouve o clamor dos esquecidos
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é quem domina
Que permite um estupro em cada esquina 
E a certeza da dúvida infeliz 
Onde quem tem razão baixa a cerviz 
E massacram-se o negro e a mulher 
Pode ser o país de quem quiser 
Mas não é, com certeza, o meu país

Um país onde as leis são descartáveis 
Por ausência de códigos corretos 
Com quarenta milhões de analfabetos 
E maior multidão de miseráveis 
Um país onde os homens confiáveis 
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis 
E o respaldo de estímulo incomum 
Pode ser o país de qualquer um 
Mas não é, com certeza, o meu país

Um país que perdeu a identidade 
Sepultou o idioma português 
Aprendeu a falar pornofonês 
Aderindo à global vulgaridade 
Um país que não tem capacidade 
De saber o que pensa e o que diz 
Que não pode esconder a cicatriz 
De um povo de bem que vive mal 
Pode ser o país do carnaval 
Mas não é, com certeza, o meu país

Um país que seus índios discrimina 
E as ciências e as artes não respeita 
Um país que ainda morre de maleita 
Por atraso geral da medicina 
Um país onde escola não ensina 
E hospital não dispõe de raio-x 
Onde a gente dos morros é feliz 
Se tem água de chuva e luz do sol 
Pode ser o país do futebol 
Mas não é, com certeza, o meu país

Tô vendo tudo, tô vendo tudo 
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

Um país que é doente e não se cura 
Quer ficar sempre no terceiro mundo 
Que do poço fatal chegou ao fundo 
Sem saber emergir da noite escura 
Um país que engoliu a compostura 
Atendendo a políticos sutis 
Que dividem o Brasil em mil brasis 
Pra melhor assaltar de ponta a ponta 
Pode ser o país do faz-de-conta 
Mas não é, com certeza, o meu país

Tô vendo tudo, tô vendo tudo 
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

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