sábado, 5 de setembro de 2009

Jesus ama as pessoas às quais você odeia.

Mais parecido com Jesus ou com os fariseus? Fiz esta pergunta a mim mesmo quando um amigo enviou para minha caixa postal o vídeo da música “God of the moon and stars”, de Kees Kraaeyenoord. Fiquei chocado. Chocado comigo mesmo e com minha capacidade de preconceito.
A letra é forte e diz entre outras frases:
Deus da lua e das estrelas
Deus do gay e dos barzinhos,
Deus dos corações frágeis que somos, eu venho a Ti.
Precisei de uma segunda leitura para perceber que aquela poesia destilava graça de Deus. Não era uma apologia ao mundo, mas ao centro do Evangelho de Jesus. Eu é que estava fora de sintonia. Minha alma revelou-se preconceituosa, limitada e por isso mesmo quis limitar a graça de Deus aos que se encaixam nos moldes que estabelecemos… Deus não cabe em moldes.
Ele é o Deus de todos, não apenas meu. É o Deus dos falidos e dos bem sucedidos. É o Deus  a quem os maus recorrem em suas aflições, assim como os bons. É o Deus de braços abertos para acolher o homem desorientado, vítima de sua própria barbárie.
Muitas  pessoas sobre quem temos preconceitos passam por dramas terríveis, mas disfarçam suas almas com uma boa dose de violência, deboche, sarcasmo, ira, etc. Se nos limitamos apenas à leitura superficial, enganamo-nos e nos mantemos preconceituosos. Precisamos ser mais profundos. Precisamos ler os contextos. Precisamos observar a voz das atitudes e das reações. Elas explicam o sujeito muito mais que as palavras da boca.
Deus frequentemente faz leitura de contextos. Ele ouve cada palavra de nossa oração, olhando para nosso coração. Deus sempre lê nossa atitude, nossa alma e nosso contexto. Por isso, a Bíblia diz que Ele sonda nosso coração, que percebe nossas intenções e que, ao orarmos, o Espírito conhece nossa intenção. O que é isso senão leitura de contexto?
A maneira como Jesus lidou com as pessoas também foi através da percepção de seus contextos. Por isso, seu coração sempre estava preparado para amar aqueles que pareciam odiáveis à sociedade. Jesus viveu sem preconceitos. Ele comia com publicanos e pecadores, não porque tivesse uma vida secreta de desfrute do pecado. Juntava-se a eles porque os amava. Via neles sede de Deus. Enxergava seus corações.  Na Escritura há diversos flagrantes dessa leitura de contexto. Foi assim com a viúva pobre e os ricos que ofertavam no templo. Sua conclusão foi que a mais pobre ofertou muito mais. Também fez a leitura certa do sarcasmo da samaritana, compreendendo sua história frustrante de fracasso em cinco casamentos e por isso lhe ofereceu a única água que poderia saciar sua sede de vida e felicidade. Fez a leitura correta da atitude da “pecadora” na casa de Simão e a leitura do próprio coração de Simão e assim elogiou a pecadora e repreendeu o religioso.
Precisamos repensar nossa trajetória religiosa a partir destes conceitos maravilhosos da graça comum, pois muitas vezes nossa prática religiosa nos faz parecer mais com os fariseus do que com Jesus. Rejeitamos, quando devemos ter compaixão. Criticamos, quando, na verdade, devemos ensinar o caminho.

Texto de Domingos Alves, publicado originalmente no site do Jornal O Povo On Line.

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