Michael Phelps e Ketleyn Quadros são atletas dos Jogos Olímpicos de 2008. Ela ganhou uma magra medalha de bronze e ele não aguenta o peso de tanto ouro pendurado no pescoço. Os dois apareceram na primeira página dos principais jornais brasileiros por motivos diferentes. Ele se tornou o nadador mais premiado de todos os tempos e riquissímo porque empresta um sorriso maroto para as multinacionais do esporte. Ela vai voltar para uma casa humilde nos arredores de Brasília. Phelps e Ketleyn vivem realidades e universos distintos.
Ketleyn nasceu em um país desgraçadamente injusto. Sua mãe costurou o seu primeiro kimono com retalho de sacos. Phelps vive em um país onde a escola pública ainda existe. Lá, os campeonatos estudantis são levados a sério, alguns televisionados. Campeões nas High Schools já são celebridades.
A peneira esportiva que Phelps teve que subir tem malhos apertados. Porém, quando terminou os estudos secundários, o "fenômeno" da natação ganhou bolsa de estudos integral para cursar uma universidade com muita verba. Paparicado pelos melhores treinadores, nadou a vida inteira em piscinas maravilhosas. Se precisou corrigir o estilo, tinha à disposição aparelhagem de vídeo de última geração. Nutricionistas ajudaram para que nunca se preocupasse com o que comer. A ascenção de Phelps espelha a cultura do seu país.
A de Ketleyin também. Sua mãe precisou fazer rifa e pedir dinheiro emprestado para poder assistir à filha brilhar em Pequim. Chorou enquanto lembrava do sacrifício de pegar ônibus caindo os pedaços para que Ketleyn entrasse no tatame.
Iguais a ela, muitas mães sofrem o pão que o diabo amassou para que os filhos lutem nos espartanos campeonatos brasileiros de judô.
Rarissimas escolas públicas brasileiras possuem algum complexo esportivo. Quando esporadicamente uma Ketleyn brilha é preciso lembrar que outras milhões nunca escapam da miséria. Mocinhas trabalham durante o dia e se arrastam para aulas sonolentas à noite. Com péssimo rendimento acadêmico, elas se vêem forçadas a aceitar sub-empregos com salário indigno. Cedo engravidam e perpetuam o perverso ciclo de injustiça, que condena este país a cáca que é.
Os nadadores que chegaram em sétimo ou oitavo na natação são oriundos da classe média, treinam em clubes da elite e logo que mostraram talento, emigraram para o exterior em busca de melhores condições. A “mãe gentil” não ajuda. Até os esportes coletivos sobrevivem de clubes ricos e de patrocínio empresarial. Mesmo assim, sobra pouco, o voley talvez.
Gosto muito de esporte, mas não agüento as patriotadas ridículas dos telejornais. Já sinto náusea de imaginar a festa que vão fazer quando o país ganhar uma ou duas suadíssimas medalhas de ouro. Tentarão encobrir a falta de vergonha na cara dos governantes com o mérito de algum solitário herói. O filtro social brasileiro exclui milhões. O maratonista empurrado, mas que ainda assim ganhou um bronze na Olimpíada grega havia sido um boia fria, cortador de cana.
Deus livre o Rio de Janeiro de ser escolhido para sediar qualquer outro evento esportivo internacional. A copa do mundo vai encher as burras das empreiteiras que vão construir elefantes brancos. Os dividendos sociais serão poucos, muito poucos.
Subdesenvolvidos, continuamos maravilhados com o sorriso despretensioso do Michael Phelps e com a algazarra tupiniquim de novos brasileiros com nome esquisito que podem brilhar.
Ricardo Gondim
Soli Deo Gloria.
Ketleyn nasceu em um país desgraçadamente injusto. Sua mãe costurou o seu primeiro kimono com retalho de sacos. Phelps vive em um país onde a escola pública ainda existe. Lá, os campeonatos estudantis são levados a sério, alguns televisionados. Campeões nas High Schools já são celebridades.
A peneira esportiva que Phelps teve que subir tem malhos apertados. Porém, quando terminou os estudos secundários, o "fenômeno" da natação ganhou bolsa de estudos integral para cursar uma universidade com muita verba. Paparicado pelos melhores treinadores, nadou a vida inteira em piscinas maravilhosas. Se precisou corrigir o estilo, tinha à disposição aparelhagem de vídeo de última geração. Nutricionistas ajudaram para que nunca se preocupasse com o que comer. A ascenção de Phelps espelha a cultura do seu país.
A de Ketleyin também. Sua mãe precisou fazer rifa e pedir dinheiro emprestado para poder assistir à filha brilhar em Pequim. Chorou enquanto lembrava do sacrifício de pegar ônibus caindo os pedaços para que Ketleyn entrasse no tatame.
Iguais a ela, muitas mães sofrem o pão que o diabo amassou para que os filhos lutem nos espartanos campeonatos brasileiros de judô.
Rarissimas escolas públicas brasileiras possuem algum complexo esportivo. Quando esporadicamente uma Ketleyn brilha é preciso lembrar que outras milhões nunca escapam da miséria. Mocinhas trabalham durante o dia e se arrastam para aulas sonolentas à noite. Com péssimo rendimento acadêmico, elas se vêem forçadas a aceitar sub-empregos com salário indigno. Cedo engravidam e perpetuam o perverso ciclo de injustiça, que condena este país a cáca que é.
Os nadadores que chegaram em sétimo ou oitavo na natação são oriundos da classe média, treinam em clubes da elite e logo que mostraram talento, emigraram para o exterior em busca de melhores condições. A “mãe gentil” não ajuda. Até os esportes coletivos sobrevivem de clubes ricos e de patrocínio empresarial. Mesmo assim, sobra pouco, o voley talvez.
Gosto muito de esporte, mas não agüento as patriotadas ridículas dos telejornais. Já sinto náusea de imaginar a festa que vão fazer quando o país ganhar uma ou duas suadíssimas medalhas de ouro. Tentarão encobrir a falta de vergonha na cara dos governantes com o mérito de algum solitário herói. O filtro social brasileiro exclui milhões. O maratonista empurrado, mas que ainda assim ganhou um bronze na Olimpíada grega havia sido um boia fria, cortador de cana.
Deus livre o Rio de Janeiro de ser escolhido para sediar qualquer outro evento esportivo internacional. A copa do mundo vai encher as burras das empreiteiras que vão construir elefantes brancos. Os dividendos sociais serão poucos, muito poucos.
Subdesenvolvidos, continuamos maravilhados com o sorriso despretensioso do Michael Phelps e com a algazarra tupiniquim de novos brasileiros com nome esquisito que podem brilhar.
Ricardo Gondim
Soli Deo Gloria.
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