quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Por que os bons estão em silêncio?


“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. (Martin Luther King)
A maior metrópole brasileira é paralisada pelo crime organizado. Na capital do país, corrupção é algo corriqueiro. Criminosos tornam-se capa de revista semana após semana. Filhos matam os pais e tornam-se celebridades.

O que mais me dói é o silêncio dos bons. Onde está a voz profética da Igreja do Senhor? As pedras já estão roucas de tanto clamar! E o povo que deveria ser luz e sal, onde se escondeu? Talvez em algum templo sem janelas, de olhos fechados cantando “derrama tua shekinah sobre nós” (um povo que deixa a desejar no uso da língua portuguesa, mas pensa que sabe cantar em hebraico).

É possível reunir uma grande multidão para assistir um show gospel, para marchar sem saber porque nem para quê, ou para ir a templos que prometem resolver seu problema na base do “toma lá, dá cá”. Mas na hora de denunciar o crime, a corrupção, e tudo o que entristece o coração de Deus, cadê o povo?

É, Luther King, eu também me preocupo com o silêncio dos bons. Me dá a impressão que eles estão com medo. Talvez estejam envolvidos no mundo das sombras e temem que a luz revele suas obras. Ou são puramente egoístas... Não, que absurdo! Os bons não podem ser egoístas!

Nosso país continua tão racista quanto antes. As senzalas apenas mudaram de nome. Agora têm nome de periféricos bairros. As igrejas aceitam o negro, mas há aquelas que insistem em que ele imite os brancos e abandone qualquer vestígio cultural que possa “escurecer” a liturgia.

A fome continua assolando nosso país, mas não há lugar na mesa do Senhor para estranhos, famintos e sujos. É mais comum uma campanha para revestir de mármore a fachada de um suntuoso templo do que para construir uma padaria comunitária para ajudar os menos favorecidos.

A educação no país não é das melhores, mas os templos ficam fechados a maior parte da semana. Até as Escolas Bíblicas Dominicais estão sendo desprezadas (foi numa Escola Dominical que eu despertei o desejo de ler, e foi uma professora de EBD que me ensinou a ler, antes mesmo da idade escolar).

Concordo com os que afirmam que os tempos mudaram. Mudaram mesmo! Mas Deus não mudou e não mudará jamais. Seus princípios são imutáveis. A tristeza é que o seu povo anda mudando, e para pior. Nunca os evangélicos foram tantos neste país, e nunca demos tantos testemunhos negativos como agora. Pastor está virando sinônimo de pilantra. Igreja virou negócio. A terra virou o palco principal, e o céu foi aposentado. Nunca gravamos tantos hinos evangélicos, mas a qualidade é das piores, tanto em letra quanto em música. Nunca tivemos tanta diversidade em matéria de igreja, mas a mensagem foi diluída e perdeu sua eficácia.

Até quando estaremos em silêncio?


Texto de Ebeneser Nogueira publicado originalmente no site da RENAS-Rede Evangélica de Ação Social.

2 comentários:

Eduardo Medeiros disse...

Não, os bons não estão em silêncio, visto que o autor, Ebenezer, fez ouvir a sua voz no texto que escreveu, e você, multiplicando a voz, o publicou aqui. As vozes podem ser poucas, mas elas se farão ouvir; o trabalho dos conscientizadores é lento, difícil, é quase "voz que clama no deserto", mas ela existe; eu não tenho mais ilusões em relação à instituição igreja evangélica, ela como meio de transformação da sociedade deixou de existir quando ainda no império romano, deixou-se seduzir pelo poder; e hoje, deixou-se seduzir pela sociedade de consumo. A instituição está falida, mas nem todos se deixaram seduzir pelo canto da sereia.

abraços.

Joel Jr. disse...

Concordo com o irmão. A instituição está falida e viciada. Mas o Senhor tem mantido sempre um remanescente fiel e tem levantado vozes proféticas para denunciar o pecado e proclamar a grandeza do Seu amor e as maravilhas do Seu Reino de Justiça. Creio nisso. Ouço as palavras de Jesus nas vozes de irmãos como o Dr. King, Willian Wilberforce, Abraham Kuiper, Viv Grigg, Kagawa, Madre Teresa, Henri Nowen e tantos outros que militaram na causa do Evangelho e não se renderam ao canto da sereia. Pessoas íntegras que, acima de tudo, dependeram do Senhor e foram agentes de Deus na transformação de realidades que pareciam impossíveis de serem mudadas, seja nas estruturas de poder ou nas vidas de pessoas cujas vidas foram alcançadas por suas ações. Louvado seja Deus por este remanescente fiel. Que alcancemos a graça de sermos contados entre eles.