"A coisa toda se estreita cada vez mais, até que afinal pára num pequeno ponto, pequeno como a ponta de uma espada – uma moça judia em oração". C. S. Lewis.
Sempre que chega esta época de Natal os meus pensamentos se voltam para este acontecimento maravilhoso e eu tendo a me concentrar muito mais na figura daquela adolescente pobre do que propriamente na do menino Jesus. Maria exerce um fascínio sobre mim. Você já parou pra pensar em como ela se sentiu quando aquele bebezinho no seu ventre começou a chutar contra as paredes do seu útero? Qual teria sido a reação dos pais dela? Será que, conforme questiona Philip Yancey em seu espetacular livro "O Jesus que eu nunca conheci", reagiram como muitos pais de jovens não casados de hoje, com uma explosão de fúria moral seguida de um período de silêncio sombrio pelo menos até que finalmente chegue o recém-nascido de olhos brilhantes para quebrar o gelo e criar uma pequena trégua familiar?" Você já conseguiu imaginar todas as humilhações e dificuldades que aquela situação causou para Maria, José e suas famílias? Tente imaginar todas as explicações que tiveram que dar.
"Sem dúvida", diz Malcolm Muggeridge, "em nossos dias seria extremamente improvável, sob as condições existentes, que Jesus tivesse permissão de nascer, pelo menos. A gravidez de Maria, nas desagradáveis circunstâncias, e com pai desconhecido, teria sido um caso de aborto; e sua conversa de ter concebido pelo Espírito Santo teria exigido tratamento psiquiátrico, tornando o argumento a favor da interrupção da gravidez ainda mais forte. Assim, a nossa geração, precisando de um Salvador, talvez mais do que qualquer outra que já existiu, seria humana demais para permitir que ele nascesse".
Apesar de ter ficado grandemente perturbada e de ter tido medo com o aparecimento do anjo que anunciou que ela seria mãe do Filho do Altíssimo cujo reino não teria fim, e, após ter ouvido e analisado a repercussão de todo aquele acontecimento, Maria respondeu: "Eu sou a serva do Senhor. Cumpra-se em mim segundo a tua palavra".
Maria entendeu que a obra do Senhor freqüentemente pode ser comparada a uma faca de dois gumes: com grandes alegrias e grandes sofrimentos e ela abraçou os dois. Ela foi a primeira pessoa a aceitar Jesus com todas as suas condições, apesar do custo pessoal que isso implicaria. Por isso, não é difícil de entender a idolatria que se formou em torno da sua figura no decorrer da história do cristianismo. As pessoas aceitam mais facilmente a história de uma virgem que concebeu um lindo bebezinho do que a história subjacente ao Natal: a de que aquele lindo bebezinho iria crescer para ser executado em favor da humanidade.
Tem uma canção chamada "Memórias", que o músico evangélico João Alexandre gravou. A letra foi escrita como se a própria Maria estivesse rememorando os momentos da sua vida familiar com o Filho de Deus, desde o seu nascimento até o momento em que ela o viu se esvaindo em sangue na cruz do Calvário. Gosto, particularmente da parte que diz assim: "Hoje eu entendo as palavras do anjo quando ele disse o teu nome. Tu és a tão esperada promessa, o Deus do céu entre nós. És do teu povo o libertador, tu és o meu salvador e o Cordeiro de Deus. E pensar que algum dia te embalei nos meus braços, Jesus!" Um primor de letra que demonstra toda a sensibilidade de quem a escreveu. Tente imaginar a reação de Maria quando ouviu de José o relato do sonho que ele tivera em que um anjo lhe aparecera para dizer que o menino corria perigo e que eles deveriam se refugiar no Egito. Imagine o desespero de uma mãe que sabe que o seu filhinho tão querido, que não tinha nem dois anos de idade, corria perigo. É por esses e por outros motivos que Maria me encanta tanto.
Entendo que esta é uma época de luzes, enfeites e música. Entendo também que é praticamente impossível ignorar todo esta disposição das pessoas em viver o amor e a bondade. Sei do desejo de muitos de viverem um momento de paz familiar, nem que seja apenas por um dia. Mas será que isso é suficiente? Penso que não, pois o Natal não trata disso. Não o verdadeiro Natal. Creio que, se Maria pudesse ver tudo o que está acontecendo no mundo nestes dias, ficaria horrorizada. Talvez dissesse: "Mas não foi por isso que o meu bebê nasceu!".
As pessoas precisam entender que a verdadeira história do Natal tem o seu início na eternidade, no momento em que Jesus ofereceu a si mesmo como sacrifício, para que através da sua encarnação, seu ministério e, sobretudo, sua morte e ressurreição o pecador perdido pudesse viver novamente em comunhão com o Pai. Aqui na Terra a verdadeira história do Natal começou em Belém, passou pelo Calvário e continua a acontecer na vida de cada pessoa que, assim como a jovem Maria, recebe Jesus como único e suficiente Salvador e Senhor e aceita todas as implicações que esta decisão acarreta.
Que nas saudações natalinas que você vai trocar com outras pessoas possa acontecer contigo o que aconteceu entre Maria e sua prima Isabel: "Alguns dias depois, Maria se aprontou e foi depressa para uma cidade que ficava na região montanhosa da Judéia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se mexeu na barriga dela. Então, cheia do poder do Espírito Santo, Isabel disse bem alto: — Você é a mais abençoada de todas as mulheres, e a criança que você vai ter é abençoada também!". (Lc 1. 39-43). Veja que saudação maravilhosa: "você é mais abençoada (bendita) de todas as mulheres (...). A criança é abençoada também (bendito)". A nossa saudação nesta época precisa estar carregada do verdadeiro sentido do Natal: "Cristo em vós, a esperança da glória".
Que seus amigos, parentes, vizinhos e conhecidos possam perceber na sua voz, palavras e olhar que Cristo não apenas nasceu. Que todos quantos o conhecerem possam perceber que Cristo vive e reina na sua vida.
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